Um dos produtores da primeira adaptação do clássico "Anna Karenina" para Hollywood , Paul Webster mostrou-se bastante nervoso nessa segunda dia 03/09. Não foi para menos, ele foi sabatinado na Biblioteca Britânica, em
Londres e com a presença de muitos russos. A primeira pergunta foi logo direta :
“Para quê o cenário surrealista?”
Ele tenta se justificar. “Entendemos que a aristocracia czarista russa
vivia como se estivesse em uma peça de teatro. Eles conversavam em
francês, usavam o alemão para finanças e falavam em inglês sobre
cavalos. O russo era reservado para falar com os criados”, afirmou. “Por
isso filmamos quase tudo em estúdio, em uma réplica de teatro russo de
1870, como uma ampla metáfora da sociedade na época.”
A resposta pareceu que agradou, mas Webster admite que "Anna Karenina", tragédia do século XIX, é
um patrimônio cultural russo e sua releitura mexe com a história do
país. A produção é bastante audaciosa ao apresentar uma versão longe do
convencional, fugindo à linguagem dos dramas de época.
Realmente mexer com os clássicos não é fácil, ainda mais com a prosa elegante de Tolstói, que tinha como fãs os gênios
Fiodor Dostoiévski, William Faulkner e Vladimir Nabokov.
O filme tem 2h10 de adaptação, com roteiro de Tom Stoppard, e quem assistiu garante que não
aborda todas as facetas do livro e mantêm foco firme no drama conjugal
da protagonista.
Publicado por Tolstói entre 1873 e 1877 em formato de série, "Anna
Karenina" expõe os tratos provincianos da
aristocracia russa, simbolizados pela reação ao adultério de Anna, que a
leva ao suicídio, e apresenta o embrião das mudanças fundiárias que
estavam por vir com a revolução bolchevique, quase 30 anos depois,
através dos dilemas pessoais do fazendeiro Constantin Levin - alter ego
de Tolstói.
Outra pergunta da plateia: “Como foi feita a seleção de atores?” O
motivo é bastante claro. O elenco é primordialmente britânico. Anna
Karenina é interpretada por Keira Knightley. Seu marido, Alexei Karenin,
é Jude Law. O conde Alexei Vronski, por quem Anna se apaixona, é
interpretado pelo jovem Aaron Johnson.
“Escolhemos atores que agregam valor”, explicou o produtor. “O
importante é que não há americanos”, disse, para uma plateia que desabou
em gargalhadas.
Mesmo com todas as controvérsias inevitáveis da adaptação de um
clássico, a tragédia hollywoodiana de "Anna Karenina", cuja
distribuidora é a Universal Pictures International, entrega o que
promete. Uma megaprodução, cerca de 180 cenários impressionantes,
figurinos esplendorosos e sacadas engenhosas de como se usar o espaço do
teatro - o palco, a plateia, as cocheiras, os camarins - elevam a força
do filme com excelentes atuações de uma desafiadora Keira Knightley e
de um sóbrio Jude Law.
A estreia no Brasil está prevista para fevereiro de 2013, vamos aguardar.