O psicólogo e filósofo William James descreveu a consciência como uma corrente a fluir continuamente, e que o estudo da mesma deveria se dar na experiência real e imediata. Segundo o filósofo John Dewey, a experiência tem um claro caráter de continuidade, um fluxo em movimento e desenvolvimento, de forma que a experiência do sujeito em cada situação serve como instrumento e como fonte de conhecimento para que ele possa lidar com as situações que se seguem. Ambos ficaram conhecidos como representantes da escola filosófica do Pragmatismo, que buscava enfatizar a experiência humana não se constituindo de forma externa ou interna a si mesmo, mas sim na própria interação do organismo com o meio. Dessa maneira, nega-se a existência de uma verdade já dada e externa ao organismo (empirismo) ou que a razão pura possa ser a melhor forma de se apreender a verdade (racionalismo). A verdade emerge da interação do organismo com o meio através da experiência.
O psicólogo norte-americano Abraham Maslow, conhecido como fundador da psicologia humanista, sustenta que a unidade natural de estudo do ser humano deve ser pessoa total. Seja o ser humano são ou não, ele deve ser estudado em sua totalidade, dentro de uma compreensão global da pessoa e não em traços isolados. Os posicionamentos de Maslow serão mais tarde também de grande influência também para a linha Transpessoal. O comportamento humano é visto assim de forma muito mais complexa que simples estímulos e respostas, envolvendo elementos como razão, sentimento, liberdade pessoal e arte, além de ódio, raiva, desejo e egocentrismo.
Ao estudarmos qualquer fenômeno humano é preciso analisá-lo em seus
diversos planos, desde o plano genético (como seres biológicos), até o
aspecto sociocultural. O plano individual e particular de cada sujeito é
construído no contexto sociocultural, estando dele indissociável. Do
mesmo modo, a cultura também não está separada do contexto filogenético,
pois ao mesmo tempo em que somos seres biológicos que nascemos com
características adaptativas para a espécie, somos seres sociais, cujo
desenvolvimento cultural também é característico de nossa espécie. Não é
possível separar o que é influência genética do que é influência do
ambiente onde o sujeito se desenvolve. A interação dos genes com o
ambiente se dá em diversos níveis, dependendo de diversos fatores, o que
faz do desenvolvimento de cada indivíduo algo imprevisível. Há na
realidade um interacionismo, onde os aspectos hereditários influenciam e
são influenciados pelo ambiente.
Algumas vezes vemos sair na mídia umas notícias como “pesquisadores descobrem o gene da felicidade”.
Os jornais que veiculam esta notícia mostram grande superficialidade no
entendimento do assunto. Em primeiro lugar, os genes podem influenciar
alguns comportamentos? Sim, é possível, mas em nenhum momento os mesmos
se fazem determinantes. Exemplificando: imaginemos que Fulano
possui uma combinação genética que supostamente o faz uma pessoa
agressiva. No entanto, isto é supostamente apenas uma influência, pois
não é sua carga genética que atua como desencadeadora de qualquer ação,
mas o contexto que aquela pessoa estiver no futuro que poderá
desencadear uma suposta ação. Os genes não ordenam a ninguém a ser
agressivo, e tampouco servem de desculpa para alguém agir assim. Ou
seja, possuindo a suposta carga genética ou não, todos nós podemos ser
agressivos, basta que exista um determinado contexto particular que
cause isto.
Se um dia nosso personagem Fulano estiver guiando seu
automóvel no trânsito quando alguém cortar seu caminho e ele reagir
xingando o outro motorista, não foram os genes que determinaram a ação,
mas constituem uma das variáveis envolvidas naquela situação. Foi a
própria experiência da situação em relação com a subjetividade daquele
sujeito que permitiu o aparecimento daquele comportamento, e o mesmo não
se daria de forma independente de algum contexto e intencionalidade do
sujeito que propiciasse sua ocorrência. Dessa forma, na espécie humana, é
somente dentro de um contexto sociocultural que há a manifestação do
biológico como conhecemos, e sem o primeiro, o segundo não se
constituiria no nível de complexidade que vemos existir.
O desenvolvimento de todo ser humano está inserido em um sistema de significados culturais,
cujos significados dados estão propensos a mudanças a partir das ações
de cada indivíduo. O fenômeno humano é, portanto, um sistema aberto, em
que a previsibilidade exata é impossível. O homem é visto assim de forma livre e intencional, valorizando-se a responsabilidade,
percebendo o homem como implicado e configurado – mas não determinado –
em seu ambiente. A experiência de vida torna-se um projetar-se, um eterno devir, um projeto sempre em construção.
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