quarta-feira, 30 de maio de 2012

A ESCOVA DE DENTES E A NOVA FACE DA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO


A economia mundial não está somente ligada às grandes transações econômicas. Na verdade boa parte da economia está ligada nas mercadorias mais simples do nosso dia a dia. Como por exemplo, uma escova de dentes. Nada mais normal se você estiver no Brasil, na Austrália, em Chipre ou nos Estados Unidos e comprar uma escova da marca Oral-B. Sim, mas e daí, daí que você reparar bem a embalagem não vem mais escrita MADE IN CHINA, mas sim FABRICADO NOS EUA. Aqui no Brasil se prestarmos atenção no verso da embalagem, está lá a nova face da divisão internacional do trabalho:


Fabricado por:
Oral-B Uma divisão da Procter & Gamble
1832 Lower Muscatine Rd., Iowa City,
52240-4502, Iowa, USA

Embalado por:
Procter & Gamble Manufactura
Loma Florida No. 32 Col. Lomas de Vista Hermosa
Delg. Cuajimalpa de Morelos 05100 México, DF.

Importado por:
Procter & Gamble do Brasil S/A
Rua E, nº 1457, Campo Alegre, Queimados – RJ
CEP 26373-280. CNPJ 59.473.770-69.

A sua escova de dentes de cada dia é feita nos EUA, embalada no México, e exportada para o Brasil. O que leva a gigante Procter & Gamble a fabricar e montar no seu pais de origem uma simples escova de dentes? O capital muda de pele, assim como você deveria mudar de escova a cada três meses cara pálida.
A P&G é a maior produtora mundial de artigos de higiene pessoal e limpeza, além de um monte de eletrodomésticos, etc. Emprega 127 mil trabalhadores em todo o mundo. Ocupa a 21ª colocação na lista das Maiores Empresas do Mundo do Financial Times Global 500. Faturamento em 2011: US$ 80 bilhões; lucro líquido: US$ 12,4 bilhões; taxa de lucro: 16,25%.
Importante: estamos a falar de uma empresa de manufatura industrial, a esfera mais importante de uma economia nacional, uma das esferas que vem caindo no Brasil.
Essa é mais uma faceta da crueldade do livre mercado: o desenvolvimento desigual e combinado do sistema imperialista cobra seu preço na moeda mais preciosa do desenvolvimento econômico internacional. O faturamento da P&G equivale a cerca de um quarto da produção industrial brasileira. É mole? Mas o por quê dessa desigualdade é o que deveriam explicar os governantes dos Brics por exemplo – com pagamento do salário abaixo do valor da força de trabalho, prolongamento da jornada, etc. – e não ficar pateticamente reclamando da taxa de câmbio, dos impostos e de outras superficialidades do processo.
Mas o problema agora é o seguinte: não seria mais lucrativo para a P&G, como de resto já fez nas últimas décadas da globalização, o deslocamento da montagem e embalagem da Oral-B para os países de baixo custo como China, México, Brasil, Haiti, Egito, e outros países que se vendem para as empresas globais?
Talvez a resposta esteja já embutida na própria pergunta: a P&G voltou a produzir sua escova de dentes nos EUA porque começa a ficar mais lucrativo fabricar nos EUA mercadorias que nas últimas décadas eram fabricadas em economias dominadas.
Duvidoso? Quem acreditava, por exemplo, que o deslocamento das fábricas no espaço da acumulação capitalista global teria uma eterna mão única das “economias ricas” para as “emergentes”, agora se defronta com fortes sinais de um movimento contrário – a volta de grandes empresas norte-americanas para sua terra natal”. E da conclusão? “Os custos do trabalho nas manufaturas dos dois países [EUA e China] tendem a se igualar nos próximos cinco anos, retirando o principal atrativo da exportação de capital industrial dos EUA para a China”.
O caso da Oral-B “fabricada nos EUA” com que nos defrontamos na nossa simples escova de dentes se trata de uma manifestação (comprovação?) altamente didática dos movimentos mais profundos da acumulação do capital mundial.
Tudo leva a crer em um novo capítulo na divisão internacional do trabalho.
Ah e antes que me esqueça, trate de escovar bem os dentes após às refeições.

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