terça-feira, 15 de maio de 2012

A RECUPERAÇÃO DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS

Em 1624, os holandeses tentaram invadir à Bahia. O ataque foi capitaneado pela Companhia das Índias Ocidentais e queria entre outras coisas aumentar a produção e a comercialização do açúcar no Brasil. Nessa época, quem reinava por aqui era o então rei espanhol Felipe IV, ou ainda Felipe III de Portugal, já que desde 1580, a coroa portuguesa tinha passado para o rei espanhol Felipe II ou Felipe III de Portugal, em um processo conhecido como União Ibérica (1580-1640).
Felipe IV e seu braço direito, o duque de Olivares, organizaram uma ofensiva comandada pelo famoso general Fradique de Toledo e conseguiram recuperar a capitania no dia 1º de  maio de 1625. Essa conquista trouxe muito orgulho para os espanhóis, que estavam perdendo na guerra de independência dos Países Baixos. O orgulho foi tamanho que dez anos depois, serviu de inspiração para o quadro A Recuperação da Bahia de Todos os Santos, de Juan Bautista Mayno (1581-1649).
O ano de 1625 foi muito significativo para os feitos militares espanhóis e a reconquista da Bahia foi um deles. O padre português Bartolomeu Guerreiro redigiu a Jornada dos Vassalos, onde buscava destacar a participação portuguesa nos combates, o espanhol Thomaz Tamayo de Vargas, escreveu, em 1628, A Restauração da Cidade do Salvador, e do lado holandês temos o registro de Johann Gregor Aldenburgk em Relação da Conquista e Perda da Cidade do Salvador pelos Holandeses. Todos esses documentos estão arquivados na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. 
A pintura de Mayno foi feita entre 1634 e 1635 para ornar o Palácio do Bom Retiro, nos arredores de Madri.
O quadro possui três planos. No primeiro,  ocupando boa parte da tela, vê-se um drama, um socorro a um ferido. A mulher sentada é provavelmente a representação da caridade enquanto os dois gêmeos abraçados remetem a Castor e Pólux, heróis da mitologia grega conhecidos como protetores dos marinheiros e combatentes.
No segundo plano, aparece a figura do comandante da esquadra espanhola, Fradique de Toledo, apontando para uma tapeçaria com a imagem do imperador Felipe IV. Abaixo, diante da imagem do imperador, estão os holandeses ajoelhados, reverenciando o vencedor.
Na imagem temos o imperador recebendo uma palma (símbolo da vitória), sendo coroado por louros pela alegoria da vitória e pelo duque de Olivares de espada em punho. Felipe IV pisa nas alegorias da heresia, discórdia e da perfídia. Acima dessa imagem temos dois anjos que seguram um emblema com a inscrição em latim Sed Dextera Tua (A Vossa Mão Direita), que remete a uma passagem bíblica do Êxodo, Canto de Vitória - "A vossa mão direita, ó Senhor, pela força se assinala; a vossa mão direita, ó Senhor, o inimigo estraçalha" (15:06).
Finalmente no terceiro plano, uma vista do litoral baiano, onde a tropa espanhola desembarca. De pé temos dois índios que observam a tudo.
O quadro, outrora para enaltecer o triunfo espanhol, chegou a ser dado de presente a Napoleão Bonaparte, quando este tomou o trono da Espanha e coroou seu irmão como rei, mas em 1815, o quadro retornou a Madri.
Hoje, A recuperação da Bahia de todos os Santos faz parte do acervo do Museu do Prado e em 2000 esteve no Brasil pela primeira vez, por conta da exposição Esplendores da Espanha - de El Greco  a Velásquez, realizada no Museu Nacional de Belas - Artes, no Rio de Janeiro.

Resumido e editado por mim, extraído do artigo A recuperação da Bahia de Todos os Santos por Juan Bautista Mayo de Jorge Victor de Araújo Souza e Sílvia Barbosa Guimarães Borges.

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